quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

É de matemática, não de realidade.

BRASIL É O SEGUNDO PAÍS COM MENOR NOÇÃO DA PRÓPRIA REALIDADE, APONTA PESQUISA.



Essa é a manchete do Folha de São Paulo do dia 06/12 e com replicação quase perfeita em outros órgãos nacionais e representantes do exterior.


Eis a lista completa


Pelo que li nessas matérias, não é exatamente uma falta de noção da realidade, mas de noção matemática ou de sua aplicação no dia-a-dia. Usemos um parágrafo do jornal alemão Deutsche Welle, edição nacional.

Quantas garotas de 15 a 19 anos engravidam no Brasil? Os brasileiros acreditam que 48% dão à luz, mas os dados oficiais mostram que são apenas 6,7%.

Se eu perguntar para um cidadão que prefere passar o tempo jogando baralho ao invés de ler a Folha, o DW ou o Jornal Nacional se metade das garotas de 15 a 19 anos estão ou estavam grávidas, certamente diria que não, que isso é um exagero. Esse tipo de proporção não passa despercebido. Mas se eu perguntar qual é a proporção de meninas grávidas, talvez diga algo em torno de 48%. Falta de noção de porcentagem, não da realidade.



Em seguida...

Quando questionados sobre quantos estrangeiros compõem a população carcerária do país, os brasileiros em média disseram acreditar que a taxa chega a 18%, mas o número oficial é 0,4%.

Aí já complica um pouco, pois nem mesmo eu sei a proporção aproximada, até porque nunca li nada sobre isso em parte alguma, nem na Folha, nem no DW. A única coisa que posso dizer com certeza é que a quantidade de estrangeiros presos é ínfima. Talvez as pessoas que responderam "18%" também acham isso, mais ainda, talvez até se surpreendam que há estrangeiros presos no Brasil "mas se tem estrangeiros presos, deve ser uma minoria de 18%", diriam. Matemática, não realidade.



Essa é ainda um pouco mais complicada:

O mesmo se repete com os homicídios. Quando questionados se acreditam que a taxa de homicídios é mais alta no país hoje do que em 2000, 76% afirmaram que sim. Mas, segundo o instituto, a taxa, apesar de alta, é a mesma – cerca de 27 homicídios por cada 100 mil habitantes.

Na média, houve um parelhamento entre o número de homicídios nesse período, mas entre cidades e estados, varia muito. Na maioria dos lugares, os índices aumentaram, mas em outros diminuíram. Eis uma matéria a respeito: (matéria a respeito).


A cada cem mortes de mulheres de 15 a 24 anos, quantas foram causadas por suicídio?

E aí, responda. Chute um percentual baseado nas suas observações ou informações e responda. Certamente não irá acertar o percentual exato, mas uma margem de erro de 10% é aceitável.



O problema do brasileiro, pelo que li nas matérias, não é a falta de noção da realidade, mas de noção de matemática, coisa que esse humílimo blog procura atenuar. Se considerarmos  o pouco apreço por essa disciplina no Brasil, convenço-me definitivamente que é isso mesmo.






domingo, 3 de dezembro de 2017

Tomando decisões

Você caminha tranquilamente na calçada, prescruta o seu redor e, de repente, aparece uma fruteira com seus produtos expostos com seus respectivos preços. Belas laranjas custando o mesmo preço que as laranjas da quitanda perto da sua casa, mas mais atraentes. Resolveu comprá-las. Em seguida, encontra uma lotérica expondo os resultados do último jogo da MegaSena destacando a palavra ACUMULOU. Aí, pensa-se se jogará ou não o próximo jogo.



O que essas duas situações têm em comum? As decisões tomadas. Ele comprou laranjas imperdíveis e está em dúvida se joga na MegaSena. Digo que a tomada de decisões obedecem a três critérios: risco, custo e benefício. Quando se fala em relação custo/benefício, fica claro que não há riscos. Risco zero. Mas quando os riscos não são zero? No primeiro exemplo que citei acima, não há nenhum risco, há somente custo e benefício. No segundo caso, há um risco elevadíssimo, mesmo assim ela fica em dúvida se joga ou não. Normalmente, as pessoas evitam coisas quando o risco é alto demais, mas não é o caso de jogos. Por que isso? Vamos tentar entender.



Na maioria dos casos, não há como quantificar os benefícios. Sabemos apenas se "vale a pena" ou não investir. No caso dos riscos, mesmo sendo possíveis de quantificar, costumam ser tão evidentes que sabemos apenas se é "alto", "médio" ou "baixo". Já os custos, embora sejam quantificáveis (se for em dinheiro), também decidimos no "vale a pena" ou não. Então, como saber se um custo, benefício e risco "valem a pena" ou não? Tudo depende do resultado da interação desses três fatores. Começando pela técnica dos extremos.


1) O que as pessoas desejam? Mínimo custo, mínimo risco e máximo benefício.
2) O que as pessoas evitam? Máximo custo, máximo risco e mínimo benefício.


Embora na prática não seja possível quantificar alguns desses critérios, vamos fazer de conta que é, para entendermos melhor isso tudo.


Vamos voltar na fruteira


O sujeito viu laranjas que custavam R$ 5,00 o quilo (CUSTO), o mesmo preço que pagaria perto de sua casa, mas as laranjas que comprou eram mais vistosas e talvez mais suculentas (BENEFÍCIO) (não há riscos. RISCO zero). Se quantificarmos os benefícios, ou na prática, a qualidade das laranjas, daríamos notas de 0 a 10. Digamos que a nota que o sujeito daria para as laranjas que comprou seja 9 e para as laranjas perto de sua casa daria 4. Então teremos para cada um dos casos:


Laranjas perto da sua casa:

Custo: R$ 5,00
Risco: 0%
Benefício: 4

Laranjas da fruteira:

Custo: R$ 5,00
Risco: 0%
Benefício: 9

O diferencial é o benefício: no segundo caso, foi maior, portanto, o sujeito decidiu comprar a laranja que viu na fruteira.


Vamos ao caso da MegaSena: as chances de ganhar da MegaSena é de um para cada 50 milhões. Isso não é um risco, é uma verdadeira declaração de perda, mesmo assim, as pessoas jogam. Por quê? O valor da aposta (CUSTO) é ínfimo se comparado ao prêmio a ser pago (BENEFÍCIO) caso ganhe. Esse, aliás, é um caso raro onde custo, risco e benefício podem ser quantificados.


Custo: R$ 3,50 (cada jogo) - BAIXO
Risco: 1/50.000.000 - SUPREMO
Benefício: variável, mas podemos pôr 50 milhões - ALTÍSSIMO


Os jogos da MegaSena tem um risco elevadíssimo, mas seu custo é infinitamente baixo se comparado ao benefício. Por isso, mesmo com o risco elevadíssimo, pessoas jogam: se perderem, perdem pouco, quase nada; se ganharem, ganham muito. Nos jogos da Quina, o risco é menor - metade da MegaSena - o custo é igual, mas o prêmio é muito menor. Esse é o motivo por que prefiro apostar na MegaSena que na Quina, já que na prática, as chances são iguais.



Eis aí como as pessoas tomam decisões. A regra é tão importante que é mister repetir:


1) O que as pessoas desejam? Mínimo custo, mínimo risco e máximo benefício.
2) O que as pessoas evitam? Máximo custo, máximo risco e mínimo benefício.


Na maioria dos casos, não é preciso quantificar essas variáveis, pois sabemos quando um custo é alto ou baixo, quando um risco é alto ou baixo e quando um benefício é alto ou baixo. É racional, quase instintivo!!!