sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Tomando decisões II

A relação Custo-Benefício é uma das mais instintivas análises de escolha que fizemos. Parece simples: basta comparar dois benefícios e seus respectivos custos. A melhor relação será escolhida. Uma casa de tamanho x com um custo de y será escolhida ao invés da casa de tamanho x mas com custo 2x. Ou, uma casa de tamanho 2x com custo y será escolhida ao invés da casa com o mesmo tamanho mas com custo 2x. Note que a expressão custo-benefício indica que devemos dividir (ou pelo menos, assim deve ser feito) o custo pelo benefício, o que significa que quanto menor o quociente dessa equação, melhor será essa relação.



Parece tudo muito simples, mas não. Imaginem uma casa com, digamos, 100 metros quadrados, e um aluguel de R$ 1.500. Agora, outra casa, com 60 metros quadrados com um aluguel de R$ 1.200. Se calcularmos a relação custo-benefício de ambos os casos, teremos 15 e 20, respectivamente. Note que pela relação, o primeiro caso é mais vantajoso, pois o aluguel por metro quadrado é menor. Mas há situações que pode "anular" essa escolha. A pessoa pode pagar R$ 1.200 de aluguel, mas não R$ 1.500. Mesmo o primeiro caso sendo mais vantajoso, o custo pode estar acima da capacidade orçamentária.



Um outro caso onde a relação é ignorada: uma mansão custa, 5 milhões, e uma casa dez vezes menor custa quinze vezes menos. Notoriamente, a melhor relação é essa última, 1,5 vezes melhor. Mas o rico comprador irá escolher a mansão, pois ele quer e pode pagar por ela. O mesmo vale para carros, celulares, recreação...



Notem que o grande diferencial, nesses casos, é a capacidade de pagar o custo, qualquer tipo de custo. No universo econômico, isso seria o preço (custo) e receita (capacidade). Agora, temos uma outra relação: custo-capacidade. Igualmente, quanto menor a relação, melhor, mas nunca pode ser superior a 1 (situação na qual o custo seria maior que a capacidade. Vamos ignorar aqui as prestações). Uma relação entre 0,001 e 0,003 (o equivalente a R$ 1,00 e R$ 3,00 para quem tem R$ 1.000) é indiferente para nós, o custo não faz muita diferença. Esse é o caso do rico que escolheu a mansão mesmo sendo mais cara e com maior custo-benefício.



No primeiro caso, é fácil explicar porque o sujeito escolheria a opção mais desvantajosa: sua capacidade de pagar o custo não permitia escolher a opção mais cara e vantajosa. Talvez o seu custo-capacidade em relação ao custo do caso mais vantajoso fosse maior que 1, enquanto a opção mais barata estava abaixo desse índice. No caso do homem rico, embora sabemos que a insignificância da relação custo-capacidade de ambas opções foi o fator decisivo, não sabemos ao certo em que ponto isso acontece.



Lembrem-se que algo parecido já foi tratado AQUI, mas foi visto apenas o fator risco, agora, vemos o fator capacidade, sem riscos.



Esse "algo a mais" - a capacidade de pagar o custo - é o que explica escolhas aparentemente desvantajosas. Sem considerar isso, as vantagens se tornarão desvantajosas. Talvez, instintivamente, já percebeu isso, senão, reflita.


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Percepções históricas

Costumamos, mentalmente, fazer distinções de elementos de acordo com o grupo a qual pertencem; não apenas de seres humanos, mas de outros elementos. Não percebemos, assim, que um determinado elemento de um grupo diferente do nosso está mais próximo de nós que de outro elemento do mesmo grupo. Perceber isso é fácil quando os elementos são espaciais ou geográficos: embora Salvador e Natal pertencem ao Nordeste, Salvador está mais próxima de Belo Horizonte, no Sudeste, que de Natal. Mas quando são elementos históricos, essa percepção não é tão óbvia, por isso mesmo, mais interessante.



Para ajudar na compreensão, usarei simples linhas e traços – algo que chamamos de linha temporal.



Sempre que estudamos história, visualizamos as pirâmides do Egito ou a era dos dinossauros como algo distante na linha temporal. Há, nesses casos, apenas duas referências temporais, dois elementos: nós e eles. Quando acrescentamos um ponto de referência entre esses elementos, é também acrescentado uma contestação à nossa percepção.



Vamos por partes, sem aquela infame referência histórica:



Se traçarmos uma linha temporal onde os únicos pontos são o presente e uma efeméride qualquer, digamos, a construção das pirâmides do Egito, teremos uma distância de 4.600 anos entre nós e eles. Agora, vamos colocar um referencial também distante e, nesse caso, oficial: o nascimento de Cristo, ocorrido há 2.019 anos. Assim, teremos:


Primeiras pirâmides: século XXVII A.C.
Nascimento de Cristo: 0
Nós: século XXI D.C.





Note que o nascimento de Jesus está mais próximo de nós que das primeiras pirâmides do Egito. Jesus, cronologicamente falando, está mais próximo de nós que dos primeiros egípcios e dos mesopotâmicos, mesmo assim, todos eles, estão no mesmo período histórico conhecido como Antiguidade, como se tivessem próximos um dos outros.



Renascença, Queda do Império Romano e nós. Os dois primeiros fazem parte de uma história relativamente distante, mas meio próximas uma da outra, pelo menos, na nossa percepção. Agora, vejamos:


Queda do império romano: século V
Surgimento do Renascimento: século XIV
Nós: século XXI



Entre a queda do Império Romano e o surgimento da Renascença, passaram-se 9 séculos, enquanto entre a Renascença e nós, 7 séculos. A distante Renascença está mais próxima de nós que dos romanos. Seria mais fácil para um romano classificar a Renascença e nós num mesmo período do futuro que nós classificá-los em um mesmo período do passado. A própria Idade Média durou 1.000 anos, e se passaram pouco mais de 500 anos desde o seu término.








Agora, um ou dois exemplos local e recente: a fundação de Brasília, cronologicamente, está tão “próxima” de nós quanto do começo do século. O fim do primeiro governo de Getúlio Vargas, em 1945, embora esteja relativamente próximo de nós, está ainda mais próximo da Proclamação da República, em 1889 (que por acaso, comemoramos depois de amanhã), o que não ocorria até os anos 1990 e impensável nos anos 1980.





E os dinossauros? A referência temporal que temos desses seres é o período de sua extinção, 75 milhões de anos, mas viveram por muitos milhões de anos antes disso. Estima-se que as primeiras espécies surgiram há 300 milhões de anos. Desse período até sua extinção, passaram-se 225 milhões de anos, o triplo de tempo que separa a nós de sua extinção. Os últimos dinossauros estão mais próximos de nós que dos primeiros da espécie.







Note que inclui no último ponto toda a história da humanidade, da escrita até hoje, e não apenas o presente, apenas para se ter uma idéia da coisa. Sabemos que toda a história da humanidade, desde a escrita é um intervalo insignificante se comparado ao período que nos separam dos dinossauros. Mas quão insignificante é isso? Vejamos abaixo.





Não há um ponto, um traço, representando a nossa história porque seu período de tempo é tão pequeno que é impossível representá-lo no desenho e invisível a olho nu.



Vejam como uma simples geometria euclidiana pode nos abrir os olhos, digamos assim, ou “desenhar” algumas relações humanas; essa será explicada numa próxima postagem.