quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Percepções históricas

Costumamos, mentalmente, fazer distinções de elementos de acordo com o grupo a qual pertencem; não apenas de seres humanos, mas de outros elementos. Não percebemos, assim, que um determinado elemento de um grupo diferente do nosso está mais próximo de nós que de outro elemento do mesmo grupo. Perceber isso é fácil quando os elementos são espaciais ou geográficos: embora Salvador e Natal pertencem ao Nordeste, Salvador está mais próxima de Belo Horizonte, no Sudeste, que de Natal. Mas quando são elementos históricos, essa percepção não é tão óbvia, por isso mesmo, mais interessante.



Para ajudar na compreensão, usarei simples linhas e traços – algo que chamamos de linha temporal.



Sempre que estudamos história, visualizamos as pirâmides do Egito ou a era dos dinossauros como algo distante na linha temporal. Há, nesses casos, apenas duas referências temporais, dois elementos: nós e eles. Quando acrescentamos um ponto de referência entre esses elementos, é também acrescentado uma contestação à nossa percepção.



Vamos por partes, sem aquela infame referência histórica:



Se traçarmos uma linha temporal onde os únicos pontos são o presente e uma efeméride qualquer, digamos, a construção das pirâmides do Egito, teremos uma distância de 4.600 anos entre nós e eles. Agora, vamos colocar um referencial também distante e, nesse caso, oficial: o nascimento de Cristo, ocorrido há 2.019 anos. Assim, teremos:


Primeiras pirâmides: século XXVII A.C.
Nascimento de Cristo: 0
Nós: século XXI D.C.





Note que o nascimento de Jesus está mais próximo de nós que das primeiras pirâmides do Egito. Jesus, cronologicamente falando, está mais próximo de nós que dos primeiros egípcios e dos mesopotâmicos, mesmo assim, todos eles, estão no mesmo período histórico conhecido como Antiguidade, como se tivessem próximos um dos outros.



Renascença, Queda do Império Romano e nós. Os dois primeiros fazem parte de uma história relativamente distante, mas meio próximas uma da outra, pelo menos, na nossa percepção. Agora, vejamos:


Queda do império romano: século V
Surgimento do Renascimento: século XIV
Nós: século XXI



Entre a queda do Império Romano e o surgimento da Renascença, passaram-se 9 séculos, enquanto entre a Renascença e nós, 7 séculos. A distante Renascença está mais próxima de nós que dos romanos. Seria mais fácil para um romano classificar a Renascença e nós num mesmo período do futuro que nós classificá-los em um mesmo período do passado. A própria Idade Média durou 1.000 anos, e se passaram pouco mais de 500 anos desde o seu término.








Agora, um ou dois exemplos local e recente: a fundação de Brasília, cronologicamente, está tão “próxima” de nós quanto do começo do século. O fim do primeiro governo de Getúlio Vargas, em 1945, embora esteja relativamente próximo de nós, está ainda mais próximo da Proclamação da República, em 1889 (que por acaso, comemoramos depois de amanhã), o que não ocorria até os anos 1990 e impensável nos anos 1980.





E os dinossauros? A referência temporal que temos desses seres é o período de sua extinção, 75 milhões de anos, mas viveram por muitos milhões de anos antes disso. Estima-se que as primeiras espécies surgiram há 300 milhões de anos. Desse período até sua extinção, passaram-se 225 milhões de anos, o triplo de tempo que separa a nós de sua extinção. Os últimos dinossauros estão mais próximos de nós que dos primeiros da espécie.







Note que inclui no último ponto toda a história da humanidade, da escrita até hoje, e não apenas o presente, apenas para se ter uma idéia da coisa. Sabemos que toda a história da humanidade, desde a escrita é um intervalo insignificante se comparado ao período que nos separam dos dinossauros. Mas quão insignificante é isso? Vejamos abaixo.





Não há um ponto, um traço, representando a nossa história porque seu período de tempo é tão pequeno que é impossível representá-lo no desenho e invisível a olho nu.



Vejam como uma simples geometria euclidiana pode nos abrir os olhos, digamos assim, ou “desenhar” algumas relações humanas; essa será explicada numa próxima postagem.



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